LUXAÇÃO DA PATELA
A luxação da patela caracteriza-se pelo deslocamento da rótula (patela) para o lado de fora do joelho. A patela é um osso sesamóide (com função de ponto de apoio) que se articula com a tróclea, sulco localizado na parte da frente do fêmur. A anatomia da tróclea contribui para que a patela seja mantida no lugar. Mas, existe também um conjunto de músculos, tendões e ligamentos que contribuem para a estabilização da patela. Os principais são os ligamentos patelofemoral medial e patelotibial medial.
Como acontece a luxação da patela?
Primeiramente, é preciso que se entenda que nem todas as pessoas estão sujeitas a ter uma luxação da patela. Para a patela deslocar, é preciso que se tenha uma anatomia que favoreça isso. Pessoas que não tenham os fatores predisponentes para a luxação dificilmente a terão, já que a energia necessária para deslocar a patela fará com que outras lesões, como fraturas ou lesões ligamentares do joelho, aconteçam antes de a patela sair do lugar.
Luxação da Patela
Ainda assim, muitas pessoas apresentam uma anatomia que favorece a luxação da patela, mas nunca terão a patela deslocada. Isso porque os músculos e ligamentos são competentes e impedem que a luxação de fato aconteça. Eventualmente, com um movimento torcional, os ligamentos que seguram a patela no lugar se rompem e a patela de fato se desloca.
O Ligamento Patelofemoral Medial tem uma boa capacidade de cicatrização, mas eventualmente ele cicatriza um pouco mais frouxo e perde parte de sua capacidade estabilizadora, facilitando com que novos episódios de luxação aconteçam. Pacientes com diversos episódios de luxação da patela apresentam o que se denomina de luxação recidivante da patela. Cada vez que a patela se desloca os ligamentos estabilizadores ficam mais fracos e a patela se desloca com maior facilidade.
Quanto mais jovem for o paciente no momento da primeira luxação, maior o risco de desenvolver luxação recidivante da patela. Da mesma maneira, quanto menor a energia do trauma que provocou a luxação, maior a chance de isso acontecer.
O que o paciente sente após a luxação da patela?
Usualmente, o paciente tem a sensação de que a patela saiu e voltou para sua posição, imediatamente. O joelho fica inchado e o paciente apresenta dor na parte da frente e de dentro do joelho.
Eventualmente, a patela pode ficar presa na posição deslocada. O próprio paciente pode colocar ela de volta no lugar com a mão ou ao tentar esticar o joelho. Mas, também, é possível que ele chegue ao hospital com a patela ainda deslocada, e o médico a colocará de volta no lugar.
Após algumas semanas, o joelho desincha e a dor é reduzida. Alguns pacientes apresentam melhora completa e levam uma vida normal. Ao desenvolver luxação recidivante da patela, o paciente pode ficar com uma sensação permanente de falta de segurança, como se a patela estivesse na eminência de se deslocar.
Uma das formas utilizadas para caracterizar a luxação recidivante da patela, inclusive, é o que denominamos de “sinal da apreensão”, um teste no qual o médico tenta deslocar a patela e o paciente reage com uma forte apreensão e contração da musculatura, para evitar que a patela de fato se desloque.
Exames de imagem
Radiografias simples e tomografia computadorizada devem ser solicitadas para a avaliação dos fatores de risco para a luxação da patela. A ressonância magnética ajuda na avaliação da cartilagem da patela, do ligamento patelofemoral medial e, ainda, de eventuais lesões associadas. Quando realizada pouco tempo depois de uma luxação, pode apresentar um edema ósseo característico, que ocorre tanto na patela quanto no fêmur, ajudando a clarear o diagnóstico.
Como é o tratamento da luxação da patela?
• Primeiro episódio de luxação da patela
O tratamento da primeira luxação da patela é não cirúrgico, na maior parte dos casos. O objetivo inicial é a melhora da dor e do inchaço. Em seguida, o que se deseja é que o paciente recupere a mobilidade e tenha uma adequada cicatrização dos ligamentos estabilizadores da patela.
Nos primeiros dias, será preciso fazer uso de medicações anti-inflamatórias, gelo e, eventualmente, imobilizadores. A mobilização do joelho fora dos imobilizadores deve ser iniciada o mais cedo possível, para evitar que o joelho perca mobilidade. Durante o primeiro mês, não se deve dobrar o joelho mais do que 90 graus (equivalente à posição sentada). Isso é necessário para permitir uma adequada cicatrização dos ligamentos.
Frequentemente, o paciente perde massa muscular durante esse período inicial. Por isso, o médico poderá recomendar um tratamento específico para a recuperação desta musculatura e da função do joelho.
• Luxação recidivante da patela
Em casos de luxação recorrente, o tratamento inicial deve ser o mesmo descrito para o primeiro episódio de luxação. A diferença, neste caso, é que a recuperação tende a ser incompleta. Ainda que a dor e o edema melhore, a instabilidade e falta de segurança aumenta a cada episódio de luxação. O único meio de se recuperar a estabilidade, nestes casos, é por meio de cirurgia.
O primeiro objetivo da cirurgia deve ser recuperar a estabilidade, o que se consegue por meio da reconstrução dos estabilizadores da patela. O procedimento mais feito para isso, atualmente, é a Reconstrução do Ligamento Patelofemoral Medial, que pode ou não ser associado à reconstrução do Ligamento Patelotibial Medial.
O segundo objetivo deve ser melhorar o movimento entre a patela e a tróclea e corrigir os fatores anatômicos que predispõem à luxação da patela. Estes procedimentos adicionais poderão ser indicados de acordo com os achados dos exames de imagem:
- Medialização da tuberoside da tíbia: pode ser indicado em casos nos quais a força de tração do tendão patelar para fora do joelho é maior do que o normal. Isso pode ser determinado por meio de uma medida tomográfica denominada de TAGT.
- Trocleoplastia: É um procedimento que visa aprofundar o sulco da tróclea, melhorando o movimento e aumentando a contenção óssea da patela pela tróclea. Ainda que a displasia (tróclea rasa) seja quase uma regra entre estes pacientes, a indicação para a trocleoplastia é bastante limitada e deve ser avaliada caso a caso, já que envolve considerável agressão à cartilagem articular.